terça-feira, 1 de setembro de 2009

Do corpo como dramaturgia

Durante muito tempo o homem artista vem se questionando sobre dramaturgia. Por muito tempo acreditava-se na dramaturgia como apenas uma construção cênica linear de forma a contar histórias ao longo do trabalho de teatro ou dança. Esta construção linear na dança se perpetua ainda hoje em muitos trabalhos e se realiza com a junção de várias músicas e situações corporais encarrilhadas de um modo que leva o espectador a acreditar nessa ‘história’ da mesma forma com que acredita na história contada em filmes e novelas. Dessa forma o espectador acaba por entender o que o trabalho quer transmitir pela racionalização e internalização das mensagens do trabalho, muitas vezes não se questionando sobre os porquês da sua construção e sem se instigar pelas questões que o trabalho aborda já que todas as coisas foram colocadas facilmente para este que o assiste. Em poucas palavras, tudo está gratuito.

Desde o século passado, porém, viu-se a necessidade de explorar o corpo como elemento principal na dramaturgia de um trabalho cênico e também a possibilidade de questionamento do espectador a respeito de um determinado trabalho. Rudolf Von Laban, dançarino e pesquisador, criou na primeira metade do século XX um método para análise de movimento baseado em ações físicas cotidianas que revolucionou o mundo das artes, sobretudo o da dança. Neste estudo ele caracteriza o movimento do homem como ação dentro de quatro fatores (peso, tempo, espaço e fluxo) e a partir daí muitas coreografias foram feitas não só para dançarinos mas também para atores. O movimento passou a ser trabalhado como o elemento mais forte dentro da construção do trabalho, as emoções que se estabeleciam ao longo dele e este movimento colocava em cheque de alguma forma todos os outros elementos como cenário, luz e sonoplastia.

Em outro momento e espaço, um grupo de artistas se reunia num salão de igreja nos EUA para testar novas possibilidades corpóreas a partir do contato corporal. Este contato corporal possibilitou dar um novo passo nos estudos do corpo como princípio dramatúrgico de um trabalho cênico porque permitiu aos pesquisadores pensar a dança sob novas perspectivas dando ênfase nas possibilidades de um corpo em contato com outro e na ambiência que este contato poderia causar a despeito de linearidade dramatúrgica ou mesmo de história a ser contada. Aqui se começa a pensar em ambiente construído ao invés de história contada.

Pensar nessas ambiências construídas por corpos que se propõem a contar não histórias dentro de um trabalho cênico é hoje uma das características da arte contemporânea. Dar a ver a dança pela construção de ambiências através de corpos e valorizando as suas especificidades é o trabalho. Mas do que falar de assuntos ou de contar histórias, o que se propõe é falar de corpos, é pensar a dança e o movimento como elemento dramatúrgico primordial dentro da composição coreográfica.

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