Queria falar um pouco sobre esse velho momento novo em que estou vivendo. Queria reviver bons momentos que já passaram e visualizar os tantos outros que ainda virão. Essa foi a forma que encontrei e, aliando ao pedido do Tio Heber, estou colocando aqui algumas das minhas impressões ao longo deste quase um ano que estou vivendo/sendo a Cia. dos Pés Grandes carinhosamente intitulada por nós de CPG.
Para quem me lê e não conhece ainda a CPG aqui vai um pequeno resumo: Dirigida pelo bailarino e coreógrafo Heber Stalin, esta traz consigo uma linguagem em dança contemporânea e sapateado. A CPG vai fazer 3 anos de existência este ano e atualmente conta com 10 bailarinos residentes, o Anael (diretor musical), a Aspásia e a Carol (produção) e ao longo desse tempo tem dois trabalhos já realizados (Dois Devaneios e Disritmia) e alguns experimentos nas duas áreas em que atua. Atualmente residimos no Teatro José de Alencar às quartas e sextas feiras das 18h às 21h.
E aqui vão algumas das minhas impressões de pesquisador/observador nessa minha (ainda pouca) vida de sapateado.
Tudo começa quando você sente e entende a transferência de peso. A coisa só flui quando você entende isso. Quando você se projeta para o lado certo da forma certa, com o tônus necessário para aquela transferência. Esse tônus demais pode te desequilibrar, e de menos pode não produzir o som desejado. Existe um momento que não passa mais pela simples execução do movimento, mais pela sua sonoridade. E os joelhos?... Como controlá-los? rsrsrsrsrsrs (minha grande dificuldade) A velocidade pode alterar a emissão do som e a forma como o pé bate no chão e sua intensidade, também. O olhar no sapateado vai para além da percepção do que se está fazendo, como se está fazendo, na velocidade/ intensidade do que se faz ( e aqui eu abro um parenteses enorme que não é só no sapateado, mais na dança que fazemos) pois passa por vias que não são de todo físicas, mais sensoriais também.
Estar atento é perceber que (na realidade) tudo conspira para o desempenho da performance. Onde os olhos nos levam para uma viagem onde tudo é possível numa fração de milésimo de segundo, onde os ouvidos nos permitem quebrar as barreiras do concretismo material, onde o cheiro nos remete as lembranças do passado, onde o paladar pode nos projetar para o futuro e onde a pele nos diz o que realmente estamos fazendo (no presente). Esta última nos acorda para o hoje, para o que está acontecendo e como está acontecendo. Estar atento é sentir tudo isso ao mesmo tempo e mesmo assim conseguir fazr o que se tem que fazer. DANDO O RECADO. Ouvir o som, sentí-lo com os pés, cheirá-lo e mastigá-lo pode nos projetar para todos os lugares que podermos (e quizermos) ir. E podemos também inverter os papéis mastigando o som com o nariz e cheirando-o com o olhar, nos projetanto com o pé e sentindo-o com nosso paladar e ouvidos.
No quesito música que se produz (porque isso é legitimado), é impressionante ver a capacidade que uma mesma partitura (por menor que seja) tem de se transformar dentro de uma rítmica e que tem um andamento 'x' num determinado compasso e, terminada no contratempo, pode recomeçar e se reverter dando um outro som e uma nova roupagem a si mesma. Essa mesma partitura enquanto corpo/pé de movimento se desdobra em duas vidas que independem uma da outra, mas que juntas contribuem para a genialidade que é a descoberta de novas possibilidades nesse corpo/pé e que é o discurso em alta no meio da dita dança contemporânea.
Poderia falar mil coisas mais nessa publicação mas prefiro deixar mais coisas para as próximas. Espero ter contribuido e estar contribuíndo ainda mais para as questões atuais da (minha) vida, da (minha) dança e de tudo o mais que possa interessar. Este pequeno dançante aqui que adora conhecer coisas sempre está disposto as novas conquistas e o sapateado vem se tornando uma paixão aos pouquinhos na minha vida. Acredito que todas estas questões podem servir para a vida e para tudo o que pudermos desencadear dela...
P.S.: Escutando Natalie Imbruglia com o cd 'White Lilies Island' e a fotina é do Antônio Alegria (querido amigo).