quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre "os (amáveis) dedos de meus pés grandes


Queria falar um pouco sobre esse velho momento novo em que estou vivendo. Queria reviver bons momentos que já passaram e visualizar os tantos outros que ainda virão. Essa foi a forma que encontrei e, aliando ao pedido do Tio Heber, estou colocando aqui algumas das minhas impressões ao longo deste quase um ano que estou vivendo/sendo a Cia. dos Pés Grandes carinhosamente intitulada por nós de CPG.

Para quem me lê e não conhece ainda a CPG aqui vai um pequeno resumo: Dirigida pelo bailarino e coreógrafo Heber Stalin, esta traz consigo uma linguagem em dança contemporânea e sapateado. A CPG vai fazer 3 anos de existência este ano e atualmente conta com 10 bailarinos residentes, o Anael (diretor musical), a Aspásia e a Carol (produção) e ao longo desse tempo tem dois trabalhos já realizados (Dois Devaneios e Disritmia) e alguns experimentos nas duas áreas em que atua. Atualmente residimos no Teatro José de Alencar às quartas e sextas feiras das 18h às 21h.

E aqui vão algumas das minhas impressões de pesquisador/observador nessa minha (ainda pouca) vida de sapateado.


Tudo começa quando você sente e entende a transferência de peso. A coisa só flui quando você entende isso. Quando você se projeta para o lado certo da forma certa, com o tônus necessário para aquela transferência. Esse tônus demais pode te desequilibrar, e de menos pode não produzir o som desejado. Existe um momento que não passa mais pela simples execução do movimento, mais pela sua sonoridade. E os joelhos?... Como controlá-los? rsrsrsrsrsrs (minha grande dificuldade) A velocidade pode alterar a emissão do som e a forma como o pé bate no chão e sua intensidade, também. O olhar no sapateado vai para além da percepção do que se está fazendo, como se está fazendo, na velocidade/ intensidade do que se faz ( e aqui eu abro um parenteses enorme que não é só no sapateado, mais na dança que fazemos) pois passa por vias que não são de todo físicas, mais sensoriais também.

Estar atento é perceber que (na realidade) tudo conspira para o desempenho da performance. Onde os olhos nos levam para uma viagem onde tudo é possível numa fração de milésimo de segundo, onde os ouvidos nos permitem quebrar as barreiras do concretismo material, onde o cheiro nos remete as lembranças do passado, onde o paladar pode nos projetar para o futuro e onde a pele nos diz o que realmente estamos fazendo (no presente). Esta última nos acorda para o hoje, para o que está acontecendo e como está acontecendo. Estar atento é sentir tudo isso ao mesmo tempo e mesmo assim conseguir fazr o que se tem que fazer. DANDO O RECADO. Ouvir o som, sentí-lo com os pés, cheirá-lo e mastigá-lo pode nos projetar para todos os lugares que podermos (e quizermos) ir. E podemos também inverter os papéis mastigando o som com o nariz e cheirando-o com o olhar, nos projetanto com o pé e sentindo-o com nosso paladar e ouvidos.

No quesito música que se produz (porque isso é legitimado), é impressionante ver a capacidade que uma mesma partitura (por menor que seja) tem de se transformar dentro de uma rítmica e que tem um andamento 'x' num determinado compasso e, terminada no contratempo, pode recomeçar e se reverter dando um outro som e uma nova roupagem a si mesma. Essa mesma partitura enquanto corpo/pé de movimento se desdobra em duas vidas que independem uma da outra, mas que juntas contribuem para a genialidade que é a descoberta de novas possibilidades nesse corpo/pé e que é o discurso em alta no meio da dita dança contemporânea.


Poderia falar mil coisas mais nessa publicação mas prefiro deixar mais coisas para as próximas. Espero ter contribuido e estar contribuíndo ainda mais para as questões atuais da (minha) vida, da (minha) dança e de tudo o mais que possa interessar. Este pequeno dançante aqui que adora conhecer coisas sempre está disposto as novas conquistas e o sapateado vem se tornando uma paixão aos pouquinhos na minha vida. Acredito que todas estas questões podem servir para a vida e para tudo o que pudermos desencadear dela...


P.S.: Escutando Natalie Imbruglia com o cd 'White Lilies Island' e a fotina é do Antônio Alegria (querido amigo).